sábado, 18 de setembro de 2010

Manifesto Punk: fora com o mofo da MPB! Fim da idéia da falsa liberdade.

Em 1981, o jornal o Estado de S. Paulo publicou uma série de reportagens denominada "Geração Abandonada" em que uma das matérias abordou a movimentação dos punks de São Paulo.
A matéria dizia entre outras coisas que os punks eram desocupados e se divertiam assaltando velhinhas no metrô e que adoravam beber leite com limão.
O contra-ataque não tardou a acontecer, em Agosto de 1982, a edição da Gallery Around trazia o seguinte texto de Clemente dos Inocentes:


Nós, os punks, estamos movimentando a periferia - que foi traída e esquecida pelo estrelismo de astros da MPB. Movimentando a periferia, mas não como Sandra de Sá, que agora faz sucesso com uma canção racista e com uma outra que apenas convida o pessoal para dançar; ou, na verdade, o convida para a alienação. Nos nossos shows de punk rock, as pessoas dançam; dançam a dança da guerra, um hino de ódio e de revolta da classe menos privilegiada. Já Guilherme Arantes diz que é feliz, mesmo havendo uma crise lá fora, porquê não foi ele quem a fez; nós também não fizemos esta crise, mas somos suas principais vítimas, vítimas constantes - e ele não. Nossos astros da MPB estão cada vez mais velhos e cansados, e os novos astros que surgem apenas repetem tudo que já foi feito, tornando a música popular uma música massificante e chata. Mesmo assim, eles ainda conseguem fazer o povo chorar. Não sei como, cantando a miséria do jeito que eles a vêem, do alto, mas que não sentem na carne, como nós. E também choram de alegria, quando cantam o dinheiro que ganham. Nós, os punks, somos uma nova face da música popular brasileira, com nossa música não damos a ninguém uma idéia de falsa liberdade. Relatamos a verdade sem disfarces, não queremos enganar ninguém, Procuramos algo que a MPB já não tem mais e ficou perdido nos antigos festivais da Record e que nunca mais poderá ser revivido por nenhuma produção da Rede Globo de Televisão. Nós estamos aqui para revolucionar a música popular brasileira, para dizer a verdade sem disfarces (e não tornar bela a imunda realidade): para pintar de negro a asa branca, atrasar o trem das onze, pisar sobre as flores de Geraldo Vandré e fazer da Amélia uma mulher qualquer.


Após a publicação desse texto, o punk em São Paulo nunca mais foi mesmo. E assim, teve inicio o Começo do Fim (do mundo)

A estratégia foi tão bem sucedida, que Inocentes e Verminose (antes de se tornar Magazine) a conseguirem tocar no extinto Gallery, casa de ricos e bacanas que existiu em São Paulo.
Bem, não é preciso dizer que a apresentação foi um sucesso (para os padrões punk) e um desastre (para os padrões grã fino)

Resumo da apresentação:

  • Ariel com passe recém contratado para os Inocentes, já subiu ao palco xingando meia dúzia de bacana.
  • Calegaria cuspiu em um pessoal que estava na primeira mesa.
  • Os Convivas da periferia começaram a dançar cordialmente (a palavra cordial é para expressar que na dança eram servidos murros e pontapés a quem estivesse ao alcance)
Em 27 e 28 de Novembro de 82 aconteceu no SESC Pompéia em SP o festival o Começo do Fim do Mundo. Na visão de muitas das bandas participantes, foi ali que começou o fim do movimento punk em São Paulo. Alguns acusaram a Rede Globo de TV de já chegar ao evento com a matéria pronta para detonar o movimento. A Polícia Civil e Militar também já estavam a muito tempo esperando um momento ideial para colocar um fim no movimento, o qual não era visto por bons olhos (naquele tempo, mesmo no final da ditadura militar, ainda tinha muito imbecil que confundia ser punk com comunista e agitador) e alguns próprios punks também não colaboraram para o andamento do festival sem violência.
Saldo da festa: O Festival foi realizado, mas com várias interrupções e tentativa de invasão do SESC pela polícia militar.
A partir desse momento, quem não tinha emprego tratou de arrumar um. Quem tinha chances e estava próximo a assinar algum contrato foi a luta e quem punk, enfim, quem resistiu em levar a filosofia adiante não teve muito futuro.
Resumo: Quando se é jovem, pode ser tudo, até fã do Restart, mas quando a vida adulta bate a sua porta cobrando o $$$ das contas a serem pagas, é preciso deixar certas posições e ideologias de lado e aceitar que o capitalismo é realmente selvagem.



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