segunda-feira, 28 de março de 2011

Bob Dylan - Before The Flood














Lançamento: 20 de Junho de 1974
Selo: Columbia
Produção: Phil Ramone, Rob Fraboni, Nat Jeffrey
Duração: 46:51
(Versão em Vinil)

Doze milhões de pessoas compraram ingressos de uma turnê de quarenta shows em grandes estádios. Relembrando, Dylan conta que "não era uma turnê na qual um bando de caras se juntam e dizem 'vamos sair e tocar'. Havia uma grande demanda por aquela turnê, e vinha crescendo, então nós íamos e tocávamos. Tocávamos três, quatro noites no Madison Square Garden, mas o que justificava isso? Não tínhamos feito nenhum álbum." Na verdade, ele tocou um show à tarde, e dois à noite no Madison Square - deve ter simplesmente se sentido daquele jeito. Dylan não havia feito nenhuma turnê desde de 1966, e agora era um mundo diferente; o que antes fora aventura agora eram negócios, e dos grandes - "todo mundo queria uma parte. O pessoal da publicidade. Os promoters. Eu não tinha controle sobre o que acontecia." Planet Waves foi lançado depois de cerca de um terço da turnê, atrasado pela decisão de Dylan de mudar o título. Ele raramente tocava músicas deste álbum ao vivo. Isso levou a vendas desapontadoras de apenas pouco mais de meio milhão de cópias e ao retorno de Dylan à Columbia. O álbum ao vivo duplo - um dos primeiros - era devido como obrigação contratual.
Before The Flood tem sido objeto de controvérsias entre os fãs desde então. Em vez de capturar o fluxo de um show ao vivo, as faixas foram selecionadas de quatro shows diferentes. Entre as músicas dispensadas, "Just Like Tom Thumb's Blues", "Ballad Of Hollis Brown", "Gates Of Eden" e "Maggie's Farm". Mesmo assim o álbum foi programado brilhantemente em quatro lados do vinil, cada um com sua própria atmosfera, e de fato transmite a estrutura dos shows de Dylan com a The Band, a The Band sozinha, Dylan Sozinho e depois juntos novamente até o final do show.
Na capa, fãs erguem isqueiros acesos, enquanto outras fotos de Barry Feinstein flagram os seis no palco, concentrados e sérios. Um destaque a cada noie era o vocal áspero e agudo de Richard Manuel em "I Shall Be Released", capturada no set da The Band. O debate da crítica gira em torno da qualidade da turnê como um todo, que seria basicamente o mesmo show de estádio em estádio. O próprio Dylan faz uma comparação com Elvis, da "sensibilidade e poder" das sessões de gravação da Sun comparada à força "escancarada" de seu retorno no especial de tv de 1969.
Há uma urgência e um senso de pressa que torna essa turnê inconfundível. Para Michael Gray, "há uma velocidade exagerada, apressada, que pouco faz jus às letras", com Dylan simplesmente jogando a cabeça para trás e berrando, como um cão de caça. Sutileza e nuances, esqueçam-nas. Os verdadeiros fãs nunca gostaram muito do álbum.
David Cavanagh reavalia Before The Flood: "Falta o convencimento tipico compartilhado entre o artista e o público em tais eventos. Este é selvagem, e Dylan é agressivo, não amigável. As estrofes são socadas... os coros de quatro vozes são praticamente gritados. A próxima vez que se ouviu música tão biliosa foi com o The Clash". Tim Rileyo apóia: "É um álbum nostálgico que evita as armadilhas das velharias, uma turnê de marcos dos anos 1960 que fez uma olhadela para trás parecer totalmente contemporânea". Paul Williams assistiu ao vivo a um dos shows registrados aqui, e não gostou de faze-lo de tão longe - "a mais de um quilometro d0 cantor"- e se espanta com o quão bem o álbum soa hoje, e tão bem gravado, especialmente a bateria de Levon. É uma captura do momento em que um grande artista "viu a luz do dia".

Lado Um
Most Likely You Go Your Way (All I'll Go Mine) (Dylan) 4:18
LA Forum, 14 de Fevereiro, show da noite. Versão original em Blonde On Blonde.
O álbum começa com uma platéia ávida que então percebe que Bob já está entre eles e assovia e aplaude antes que uma nota sequer seja tocada. A gravação é afiada, se comparada, ironicamente, ao rock de garagem da versão em estúdio. Quando Dylan trava, Cavanhagh percebe através de seus fones de ouvido que "algo definitivamente aconteceu no recinto", uma inspiração ou expiração vasta, conforme todos reagem simultaneamente ao berro de Dylan. "É assim que ele vai rearranjar as músicas antigas? Jesus..."

Lay Lady Lay (Dylan) 3:15
LA Forum, 13 de Fevereiro. Versão original em Nashville Skyline.
É bom ouvir esta música com uma banda de rock de verdade. As cimitarras gêmeas da guitarra questionadora de Robertson e do orgão de parque de diversões de Garth adornam Dylan, que não mais interpreta suavemente, mas canta com intensidade. Ele deve ter machucado a garganta cantando assim, dia após dia. Robert Christgau descreve seu método aqui como "ceifando como um caminhão de todas as suas canções antigas".

Rainy Day Women #12 & 35 (Dylan) 3:27
LA Forum: 13 de fevereiro. Versão original em Blonde On Blonde.
Nova Letra: "they'll stone you when you're trying to take a bath" A The Band faz a música dançar, é hora do parque de diversões.

Knockin' On Heaven's Door (Dylan) 3:52
Madison Square Garden, 30 de Janeiro de 1974. Versão original em Pat Garret and Billy The Kid.
Riley descreve esta versão como "elegia pesarosa de esperanças perdidas", revestida tanto pelo fantasma do Vietnã - "Estou enojado e cansado da guerra"- quanto por mito dos Velho Oeste. Dylan canta como se tivesse lágrimas nos olhos, dançando em torno da batida e a The Band responde a cada nuance. Talvez o distintivo que ele pede para ser retirado de sí seja sua própria lenda.

It Ain't Me Babe (Dylan) 3:40
LA Forum, 14 de Fevereiro, show da noite. Versão original em Another Side Of Bob Dylan.
É uma releitura radical, agora ambientada em ritmo mexicali. Falta o choque puro da música quando apareceu pela primeira vez, que dispensava toda a tradição das canções românticas com um só verso, mas a reação da platéia sugere que Dylan será amado por toda a vida deles também, e isso já o bastante.

Ballad Of A Thin Man (Dylan) 3:42
LA Forum, 14 de Fevereiro, show da tarde. Versão original em Highway 61 Revisited.
Mais despojada do que a extraordinária versão de 1966, que era uma navalha na carne, embora Hudson toque basicamente as mesmas frases no orgão. Dylan soa quase festivo, a The Band troteia e o grande Levon Helm não desperdiça uma batida sequer. O "Mr. Jones" deveria ser obrigado a usar "telefones" agora. Um ótimo piano rock n' roll no finalzinho.

LADO TRÊS
Don't Think Twice, It's Alright (Dylan) 4:37
LA Forum, 14 de Fevereiro, show da noite. Versão original em Freewheelin'.
Primeiro surgem os aplausos conforme Dylan entra no palco após a miniapresentação da The Band sozinha. Seu momento acústico também tem sua própria eletricidade embutida, e sua voz parece ter subido meia oitava em comparação ao Huck Finn pueril que gravou esta música no início dos anos 1960, a uma eternidade de distância. A canção também ganhou velocidade.

Just Like a Woman (Dylan) 4:06
LA Forum, 14 de fevereiro, show da noite. Versão original em Blonde On Blonde.
Há um toque de Presley nesta interpretação bem dissimulada e um riso em sua voz.

It's Alright Ma (I'm Only Bleeding) (Dylan) 5:48
LA Forum, 14 de fevereiro, show da noite. Versão original em Bringing It All Back Home.
O verso sobre o presidente tendo de se levantar nu rende grandes aplausos, como se podia imaginar pouco depois de Watergate. Bill Graham pediu luzes de palco vermelhas, brancas e azuis nesse ponto. A música tomou uma ressonância bem diferente nos últimos dias do mandato de Clinton, literalmente nu. Esta versão é esbaforida, como se Dylan buscassse um recorde de velocidade em terra. Ele deixa três estrofes de fora e, como aponta Paul Williams, "Sempre no limite da tensão, porque não pode baixar a guarda".

LADO QUATRO
All Along The Watchtower (Dylan) 3:08
LA Forum, 14 de Fevereiro, show da tarde. Versão original em John Wesley Harding.
Dylan conta no livro que acompanha Biograph: "Gostei da versão de Jimi Hendrix e desde de sua morte venho tocando-a assim. É estranho como cada vez que a canto sinto que é um tributo a ele, de alguma forma. A primeira vez que o vi ele estava tocando com John Hammond, ele era incrível. A última vez que o vi foi uns dois meses antes de sua morte. Foi uma cena lúgubre". Começa tranquila, depois ganha um toque latino, então a platéia se agita e Dylan entra rugindo. O espaço vasto da original se foi. Este é um ataque repentino e salve-se quem puder.

Highway 61 Revisited (Dylan) 4:27
LA Forum, 14 de Fevereiro, show da noite. Versão original em Highway 61 Revisited.
Robertson faz um ruído como o de um caminhão tocando a buzina numa rodovia. É mais lenta e mais ameaçadora do que a original. Helm dirige da traseira.

Like A Rolling Stone (Dylan) 7:10
LA Forum, 13 de Fevereiro. Versão original em Highway 61 Revisited.
Paul Williams se entusiasma com "um arranjo e uma interpretação belos, vivos e bradantes".
Começa com o maravilhoso ataque duplo dos teclados de Hudson e Manuel que inspirou o Procol Harum - e a música se tornou mais uma celebração do que uma acusação. No final a platéia ruge sua aprovação e ninguém grita "Judas".

Blowin' In The Wind (Dylan) 4:31
Gravada parte no LA Forum em 13 de Fevereiro e parte em 14 de Fevereiro, nos shows da tarde.
Versão original em Freewheelin'. No bis, a The Band dá um passeio pelo country, Dylan dá nova energia a essa velha pérola e o incomparável coro masculino confuso se junta a ele no refrão. O álbum deixa a vasta multidão aos pulos e celebrando.

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