segunda-feira, 21 de março de 2011

Bob Dylan - No Direction Home; The Soundtrack. Bootleg Series Vol.7














Lançamento: 30 de Agosto de 2005
Produtor: Jeff Rosen, Steve Berkovitz, Bruce Dickinson e Martin Scorcese
Selo: Columbia
Duração: 72:22

Este CD duplo descreve-se orgulhosamente como a trilha sonora do longa-metragem em duas partes de Martin Scorcese. Apenas duas das faixas já haviam aparecido em álbuns antes. Mas não se trata de uma trilha sonora no sentido convencional: a estrutura do filme brinca de maneira rápida e livre com o tempo. Os compiladores desta seleção usaram as músicas presentes no filme (incluindo material desenterrado da turnê britânica de 1966) como ponto de referência, encontrando tomadas alternativas, perfomances ao vivo raras e faixas inéditas que amplificam as sequências pivotais do filme e evitam redundâncias. Como foi lançada antes, a trilha também aumentou a expectativa para a transmissão do documentário na televisão.
Há, como de costume, um livreto com ensaios e notas, desta vez de autoria do ex-empresário e manda-chuva dos Rolling Stones, Andrew Loog Oldham, cujos devaneios em minúsculas foram vistos, na época, como uma cópia direta do estilo de Dylan. ele ainda os pratica: "na inglaterra e na frança, mais conhecidas como europa, havia dylan antes que houvesse os beatles e os stones. 45 anos depois, dylan ainda move os peões, define o jogo e registra o badalo dos sinos, nossas vidas viram shakespeare novamente".
A capa traz a famosa foto de Barry Feinstein de um Dylan com os cabelos desgrenhados pelo vento e extremamente soturno, numa estrada para lugar nenhum, posando ao lado de um cruzamento desolado de uma linha férrea, enquanto Pennebaker aguarda um Austin Princess 0 cuja placa foi astuciosamente alterada para "1235 RD", uma piada interna em referência a "Rainy Day Women #12 & 35". Na contracapa da caixa dos CDs há um Dylan angelical cantando uma escadaria. Dentro há tesouros ainda maiores: A capa de Bringing It All Back Home antes do tratamento psicodélico; Bob quando bebê; pilhas de latas de filme e fitas de rolo; o seu cachecol de Blonde On Blonde ; segurando uma cruz desgastada, mais de uma década antes de se converter. E o mais pungente de todos, Bob pilotando sua motocicleta sem capacete, antes do acidente. O livreto quase se equipara ao extraordinário feito de arqueologia cultural que é o filme de quatro horas de Scorcese.

CD 1
When I Got Troubles (Dylan) 1:30
Uma gravação doméstica de 1959 do que foi provavelmente a primeira composição do jovem Bob - e é também muito melíflua, poderia ser o jovem Paul McCartney. O violão é desajeitado, mas espirituoso, a letra é centrada nele próprio e pessimista desde o início, mas o vocal é doce como Ricky Nelson. John Harris afirma que esta "pode passar por uma gravação de campo pré-guerra ou por uma sobra hilariamente lo-fi da Anthology de Harry Smith.

Rambler, Gambler (tracional, arranjo de Dylan) 2:28
Em agosto de 1960, Cleve Petterson comprou um gravador novíssimo na Radio Shack de Minneapolis e o testou com um pretendente à fama e gazeteiro da universidade local. A voz da melodia folk "Wagoner's Lad" já é reconhecidamente de Dylan, com uma técnica ao violão rapidamente melhorada.

This Land Is Your Land (Woody Guthrie) 5:59
Ao vivo no Carnegie Chapter Hall em 4 de novembro de 1961, este é o hino de Guthrie, que seria o clímax dos shows da Rolling Thunder Revue. Gaita rudimentar e uma interpretação pesarosa do jovem clone de Woody, mas com um anseio totalmente próprio. Nascera um gênio.

Song To Woody (Dylan) 2:41
A composição mais antiga de Dylan presente em seu primeiro álbum e um adeus ao mestre, criativamente falando. Um momento pivotal no documentário - Dylan conta que teve de compô-la porque precisava tirar esses sentimentos da cabeça e soltá--los no ar.

Dink's Song (tradicional, arranjo de Dylan) 5:03
Minneapolis, Minnesota, 22 de dezembro de 1961
Esta e a canção seguinte foram gravadas por Tony Glover, amigo de Bob, três dias antes do Natal e incluídas em muitos discos piratas com o nome de "Minnesota Hotel Tapes". Mas esta vem diretamente da fita master. "Dylan já é um intérprete maravilhoso de músicas tradicionais", diz Eddie Gorodetsky nas notas do livreto.

I Was Young When I Left (Dylan) 5:25
Minneapolis, Minnesota, 22 de dezembro de 1961.
"Eu meio que a fiz num trem. Deve ser boa para alguém, se não para mim." A música é imensamente pungente e tem um contexto autobiográfico forte, embora Dylan nunca tenha perdido contato com a família como o protagonista da canção. É um exemplo precoce de Bob retrabalhando letras circulantes de músicas tradicionais em prol de sua própria expressão pessoal. O dedilhado solitário do violão é tão melodioso que quase machuca os ouvidos.

Sally Gal (tradicional, arranjo de Dylan) 2:38
Sobra de estúdio de The Freewheelin' Bob Dylan.
"70086, tomada um", entoa o grande John Hammond, e lá vai seu mais recente protegido à época, tocando gaita como um frango cacarejando no fogo, e então entra uma letra banal cantada por ele como o nonsense que de fato é, mas com muito espírito. "Uma batida exuberante... o equivalente folkie de se terminar uma apresentação com "Not Fade Away", é como as notas do livreto descrevem a música. E Bob sabe berrar.

Don't Think Twice, It's All Right (Dylan) 3:36
Demo para Witmark Music, março de 1963.
O editor musical de Bob, Lou Levy, o trancava numa sala com um gravador para que registrasse suas últimas músicas para serem transcritas em partituras. As canções eram prensadas em discos e enviadas para outros artistas, e foi assim que o nome de Dylan começou a se espalhar. Mas esta versão é mais do que um exercício técnico, é cantada com sentimento verdadeiro e um acompanhamento límpido de violão.

Man Of Constant Sorrow (Dylan) 3:24
A atribuição da canção a Dylan surpreenderia os apalachianos que a cantavam antes mesmo do nascimento do suposto autor, mas ele a refaz à sua própria imagem e nos faz acreditar que realmente vivenciou tudo aquilo. Retirada do programa de TV de 1963 Folk Songs.

Blowin' In The Wind (Dylan) 4:23
Ao vivo no Town Hall, em Nova York, em 12 de abril de 1963.
"Aqui vai uma canção que compus e foi gravada. Não soa muito da maneira como eu a canto. Mas a letra é a mesma. Isso é o que importa."Ele a resgata de Peter, Paul and Mary com esta versão melancólica, introduzida por uma gaita solitária, e desta vez, "menos um hino político e mais como a pergunta de um amante".

Masters Of War (Dylan) 4:43
Ao vivo no Town Hall, em Nova York, em de 12 de abril de 1963.
"Acredito no Dez Mandamentos. O primeiro "Eu sou o Senhor teu Deus", é um ótimo mandamento, quando não dita pelas pessoas erradas." Ele a canta vivamente, quase de maneira costumeira, mas repleto da raiva de um jovem. A platéia vai à loucura.

A Hard Rain's A-Gonna Fall (Dylan) 8:23
Ao vivo no Carnegie Hall, em Nova York, em 26 de outubro de 1963.
Bob apresenta a canção explicando que algo está para acontecer, por implicação não necessariamente da crise dos mísseis cubanos em 1962, como referenciado por Nat Hentoff nas notas de capa de Freewheelin'. Os diferentes timbres que dá ao violão são incríveis, e ele canta com temor e compaixão ao mesmo tempo. Uma versão ao vivo afiadíssima.

When The Ship Comes In (Dylan) 3:37
Ao vivo no Carnegie Hall, em Nova York, em 26 de Outubro de 1963.
"Hoje em dia há Golias mais cruéis", mas eles serão mortos também. Entre eles, recepcionistas de hotel zelosos em excesso, trazidos estridentemente até aqui por Bob com seu estilingue de palavras.

Mr. Tambourine Man (Dylan) 6:43
Columbia Studios, Nova York, 9 de Junho de 1964.
Tom Wilson soa bêbado, ou muito irônico, ao dizer a esses dois fãs de Guthie que cheguem mais perto do microfone. É a primeira tomada completa da música, embora Bob e seu parceiro no crime, Ramblin' Jack Elliott, mutilem um pouco a letra. Uma sobra de estúdio de Another Side Of Bob Dylan, com um álbum de antecedência, supostamente a versão enviada para os Byrds, que inventaram o "folk rock" com auxílio dela! Deve ser - o andamento é quase idêntico, embora McGuinn, Clark e Crosby planem no vocal enquanto estes dois tropeçam simpaticamente.

Chimes Of Freedom (Dylan) 8:04
Ao vivo no Newport Folk Festival, Rhode Island, em 26 de julho de 1964.
Uma versão majestosa e impetuosa dessa visão mística, na última presença de Dylan no festival de Newport aclamada quase que unanimemente. Sua voz é dura como uma árvore. No ano seguinte, ele retornaria para enterrá-la. "O entusiasmo malemolente de um homem com trovões no bolso."

It's All Over Now, Baby Blue (Dylan) 3:33
Sobra de estúdio de Bringing It All Back Home , Columbia Recording Studios, Nova York, 16 de Janeiro de 1965.
Com variação melódica discreta, porém doce, a música também serviu como o bis acústico do controverso repertório elétrico em Newport em 1965, supostamente um adeus a qualquer fã de folk que não conseguisse segui-lo no redemoinho.
O primeiro dos dois CDs não o traz o menor traço de eletricidade, exceto na força das interpretações de Dylan. As coisas vão mudar.

CD 2
She Belongs To Me (Dylan) 4:08
Sobra de estúdio de Bringing It All Back Home, Columbia Recording Studios, Nova York, 14 de Janeiro de 1965.
Mais lenta e límpida do que a versão lançada, e sem bateria, com o baixo marcando a pulsação. A música era originalmente chamada "Worse Than Money". Dedilhados fluídos de guitarra de Langhorne e um vocal tipicamente sublime de Dylan, até que se ouça a letra com um pouco mais de atenção: ou é sobre uma bela e mimada mulher, ou é sobre a musa.

Maggie's Farm (Dylan) 5:03
Ao vivo no Newport Folk Festival em 25 de Julho de 1965.
Peter Yarrow anuncia num tom extremamente sério: "A pessoa que vem a seguir... mudou a face da música folk para o grande público americano porque trouxe a ela o ponto de vista de um poeta". O que ouvimos em seguida é como um moleque de rua gritando - "Vamos nessa"- , acompanhado da banda da pesada de Paul Butterfield e com a língua presa numa cerca de arame farpado. Bloomfield toca como um louco. O arranjo é afiado e sem vergonha, e de fato combina com a poesia desdenhosa da canção muito mais do que um violão sozinho jamais poderia. "Ele tem um tempo limitado". Não poderia ser mais verdade, e o resto deste CD sensacional traçará o que aconteceu ao longo dos 12 meses seguintes.

It Takes A Lot To Laugh, It Takes A Train To Cry (Dylan) 3:35
Sobra de estúdio Highway 61 Revisited , Columbia Recording Studios, Nova York, 15 de Junho de 1965. Título Original: "Phantom Engineer".
Esta é a oitava tomada do que Kooper chama de esboço "em andamento para cima", bem no estilo da música anterior. Al ressuscitou este arranjo em Super Session, álbum que é como Hamlet sem o príncipe. O engenheiro de som da última estrofe é suprimido. "Bloomfield continua a virar o idioma do blues de cabeça para baixo."

Tombstone Blues (Dylan) 3:36
Tomada alternativa (tomada 9) de Highway 61 Revisited, Columbia Recordings Studios, Nova York, 29 de julho de 1965.
Hora da comédia. Uma sobra de estúdio frenética, com vocais de fundo dos rapazes da banda, inseridos em overdubs posteriores pelos Chambers Brothers. Mas o que a distingue é o baixo como fuzz que soa como se tivesse se esgueirado de uma sessão de Spike Jones. É possível ouvir melhor o orgão, e Bloomfield uiva. Dylan realmente canta "John the blacksmith" ["John, o ferreiro"]? Ele cai na gargalhada, e ninguém pode culpá-lo.

Just Like Tom Thumb's Blues (Dylan) 5:45
Tomada alternativa (tomada 5) de Highway 61 Revisited, Columbia Recording Studios, Nova York, 2 de agosto de 1965.
Esta tomada inicial não traz o "som de nascer do sol turvo de giz de cera borrado" da versão do álbum, aparentemente. É ótimo ouvir todos os ingredientes da tomada final, ainda não cozinhados por completo, com piano elétrico proeminente, guitarra lânguida e um vocal menos urgente. E a letra só precisava de um pequeno ajuste: "the cops don't need you here" ["os tiras não precisam de você aqui"] tem uma palavrinha a mais.

Desolation Row (Dylan) 11:40
Tomada alternativa (tomada 1) de Highway 61 Revisited , Columbia Recording Studios, Nova York, 29 de Julho de 1965.
Gravada no meio da noite, traz uma aura distante. Para John Harris, "o delicado riff acústico é substituido por um dedilhado lúgubre do blues - Kooper toca guitarra como o Jovem Lou Reed". O próprio Kooper escreve que esta versão "casa a música com a característica algo do punk do restante do álbum. Foi uma pena que o baterista já tivesse ido embora quando a gravamos". Mas ela se arrasta, enquanto a versão lançada desfila. Ainda assim, já vale quanto pesa pelo verso omitido sobre kafkanianos dando de comer "as entranhas fervidas de passáros" a Casanova.

Highway 61 Revisited (Dylan) 3:40
Tomada alternativa (tomada 6) de Highway 61 Revisited , Columbia Recording Studios, Nova York, 2 de agosto de 1965.
Piano elétrico percussivo e Bloomfield numa slide guitar matadora - ele saca alguns solos aqui e alí também -, com uma bateria inquieta. Mas algo está faltando. No final da tomada, Kooper tira a sirene de polícia que carrega pendurada no pescoço para dar aos hippies chapados o susto de suas vidas e sugere a Dylan que a coloque em seu suporte de gaita. É como dar um novo chocalho a um bebê e, dito e feito, na tomada final Dylan fez um uso brilhante dela.

Leopard-Skin Pill-Box Hat (Dylan) 6:26
Tomada alternativa (tomada 1) de Blonde On Blonde, Columbia Recording Studios, Nova York, 1 de Janeiro de 1966.
Uma versão muito mais lenta e cruel, com Dylan soando chapado e a banda como se tivesse saído do boteco mais barra pesada do Southside de Chicago. Nesta versão, Dylan usa seu cinto em torno da cabeça e acrescenta dois versos, sobre estar "tão sujo, garota, andando o dia inteiro numa lata de lixo fria", ["so dirty, baby, walking all day in the cold bin"] - suas mãos estão sujas, bem como sua mente - e outro sobre querer ser o chofer dela, do modo como cantou Memphis Minnie.

Stuck Inside Of Mobile With The Memphis Blues Again (Dylan) 5:45
Tomada alternativa (tomada 5) de Blonde On Blonde, Columbia Recording Studios, Nashville, 17 de Fevereiro de 1966.
Kooper conta uma história adorável sobre Dylan não querer chamar o pianista cego por seu apelido "Pig" (porco), e então usar Al como intermediário. É possível sentir imediatamente o clima relaxado de Nashville, e ainda assim uma musicalidade precisa. Este ensaio inicial é tão relaxado para a letra que carrega, que Dylan a esgota em alguns momentos.

Visions Of Johanna (Dylan) 6:38
Tomada alternativa (tomada 8) de Blonde On Blonde, Columbia Recording Studios, Nova York, 30 de Novembro de 1966.
De volta a Nova York para esta versão com os Hawks e Kooper. Robbie acrescenta alguns licks matadores, a bateria é marcial e o andamento, acelerado. Como apontam as notas de Gorodetsky, é assim que a música poderia ter soado se tocada durante a parte elétrica da turnê européia. Mas falta a beleza da versão de Nashville.

Ballad Of Thin Man (Dylan) 7:46
Ao vivo no ABC Theatre, em Edimburgo, 20 de maio de 1966.
Uma versão lenta incrível tocada em um show até então inacessível, que nos faz perceber como cada apresentação nessa turnê foi sutilmente diferente. Onde está a box set, Sony? Dylan canta cada verso com um homem batendo os pregos no caixão da música folk. Hudson é como um fantasma da ópera, enlouquecido no orgão. E Robertson toca não mais do que as notas precisas, além da seção rítmica que inventa o heavy metal.

Like A Rolling Stone (Dylan) 8:12
Ao vivo no Free Trade Hall, em Manchester, em 17 de Maio de 1966, lançada anteriormente em The Bootleg Series Volume 4: Live 1966.
O ápice que mostra como progrediu um documentário incrível de quatro horas. É um longo caminho desde "When I Got Troubles", mas aquele jovem delgado com certeza progrediu.

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